Para quem não sabe, sou professora. Ou melhor tento sê-lo, mas está difícil. Neste fim de ano, dei por mim a pensar, mais do que é habitual, na minha vida profissional. E sinto-me mesmo triste com a quase falta dela. Quem diria que oito anos após o término da licenciatura e até com uma segunda pelo caminho, estaria numa situação assim tão precária. É certo que nos primeiros anos, fruto talvez da comum motivação de um recém licenciado, acreditava que as coisas, embora difíceis, mais cedo ou mais tarde teriam um bom rumo. Hoje já não penso da mesma forma. E este pensamento é mesmo triste. As minhas esperanças estão cada vez menores, não vejo grande futuro na educação deste país. São notícias como esta e tantas outras que fizeram parte dos noticiários nos últimos anos, que confirmam o futuro pouco auspicioso que me espera. Já nem sei se me sinta triste por mim ou se pelos meus pais. Trabalharam uma vida inteira para poder dar às filhas um curso superior, acreditando que isso nos proporcionaria uma vida mais desafogada e melhor e, na realidade, constatam que o seu esforço não está a ter retorno.
Outra situação que me entristece é que realmente nós professores somos mesmo mal conceituados pela sociedade em geral. Às vezes, ouço cada comentário, tão desprovido de conhecimento e bom senso que me causa uma certa agonia. A maioria das pessoas acredita mesmo que os professores fazem parte de uma classe protegida, favorecida até. A maioria acredita que trabalhamos muito pouco. Acredita que temos imensos dias de férias. Acredita que o nosso trabalho é apenas chegar a uma sala de aula e debitar, falar e que isso nada custa. A maioria acredita que ganhamos balúrdios de dinheiro. Cada vez que oiço estas coisas, dá-me cá uma revolta e até perco qualquer vontade de explicar o que quer que seja, de repor a verdade. Essa, mesmo que a dissesse, seria certamente ignorada, porque ninguém acreditaria que ser professor impõe um trabalho exaustivo. Que trabalhamos no local de trabalho e em casa. Que muitas vezes pagamos para trabalhar. Que vivemos sem qualquer estabilidade. Enfim... tanto mais havia para repor.
Sei que o M. não gosta que pense desta forma, não gosta de ver tanto desânimo e dá-me sempre força e esperança, acreditando que vou conseguir. É um querido. Ainda bem que te tenho a meu lado! Eu nem sou de lamúrias, não gosto mesmo. Mas há dias e dias. Hoje acordei assim mais pensativa e a pensar no tanto que tenho para dar. Felizmente, a vida dá-me todos os dias boas razões para sorrir e não há lugar para queixumes! Amanhã já é um novo dia!